Monday, April 9, 2007

Conhecer pela imagem
Jean-Pierre Meunier


Jean-Pierre Meunier questiona as relações entre a imagem e o conhecimento. A resposta a esta questão depende do quadro de referência considerado na abordagem, no entanto, a reflexão assenta frequentemente sobre a oposição imagem/verbal, sendo aquela mais associada à afectividade, participação, proximidade, imediato, enquanto que o verbal aparece como mais reflexivo e distante.

A nível das pedagogias, considerada a polissemia da imagem, esta apelará a pedagogias não directivas, centradas na interpretação do destinatário.

Subsiste porém o problema do conhecimento antes e depois da exposição às imagens, levantando-se a questão da natureza das representações mentais que acolhem imagens exteriores e como estas se integram nas representações mentais.

Na visão estruturalista as línguas eram aceites como entidades autónomas susceptíveis de descrição independente. Com o desenvolvimento da pragmática reconhecem-se nos estudos da comunicação as conexões entre os diversos domínios – linguística, psicologia cognitiva, psicossociologia – assim como a inevitabilidade do recurso à enunciação e à relação em contexto e, naturalmente da semiótica cognitiva. Isto acontece porque quando se pretende compreender os processos de significação e as relações de comunicação não se pode ignorar o papel da representação mental, que se apresenta, assim, como uma nova variável a considerar no conjunto das actividades cognitivas.

Até numa definição básica de conhecimento encontramos a noção de representação. Conhecer é ter uma representação daquilo que se conhece.

É, pois, necessário clarificar a noção de representação. Os psicólogos da cognição reconhecem duas categorias de representação, proposicional e imagens, sendo manifesta a sua habitual preferência pelas proposições onde se inscreverá a maior parte das representações humanas. Esta ideia supõe que as representações humanas se organizam de forma semelhante à linguagem (língua) e que a estrutura da língua depende das representações cognitivas que lhe preexistem.

Já as representações figuradas caracterizam-se pela sua relação de analogia com a percepção.

Há também um número de trabalhos que atribuem às representações figuradas a superioridade na ordem das representações mentais. O próprio Piaget referindo-se a este assunto, enquanto fazia emergir o conceito verbal da imagem mental, reconhecia a esta uma função de ilustração do significado conceptual, uma categoria abstracta. Nesta perspectiva a palavra é o significante e a imagem é o signo que desempenha uma função coadjuvante.

Verifica-se, pois, na literatura que a separação entre imagem e conceito é frágil, fragilidade esta que as investigações actuais têm vindo a documentar: existe uma componente figurada no conceito lexical, ou usando a terminologia de Saussure, no significado do signo verbal. As palavras têm um valor figurativo, isto é, têm a capacidade de desencadear a formação duma imagem mental. Porém este processo coexiste com outros que não devem nada à imagem.
Entre as teorias que defendem o papel fundamental da imagem, a teoria dos modelos de Johnson-Laird defende que os humanos constroem modelos do mundo percebido e reproduzem esses modelos no discurso, que, por sua vez, ao ser descodificado por outro indivíduo dá lugar à construção dum modelo semelhante ao mundo conhecido e transmitido pelo original. Desta forma parece que a comunicação verbo-digital apenas tem como finalidade a construção da representação analógica o que põe em causa a noção de autonomia da linguagem defendida pelos estruturalistas. Assim a linguagem dependeria do sentido, isto é da imagem.

Por seu lado a teoria do acto elocutório defende que a enunciação verbal é a comunicação dum modelo mental de carácter icónico, sendo a linguagem um conjunto de instrumentos ao serviço da composição analógica. Nesta perspectiva, conhecer é ter uma representação icónica, isto é, uma imagem mais ou menos sensorial, mais ou menos abstracta de algo. Esta modelização levanta várias questões como por exemplo: níveis de abstracção dos modelos, que operações cognitivas autorizam as diferentes formas e graus de iconocidade, como se organizam os modelos entre si, questões estas que interessam tanto psicólogos como linguistas, como semiólogos.

Índice, ícone, símbolo
Ao contrário dos linguistas que apenas abordam a língua, os semiólogos dedicam-se ao estudo de todas as espécies de signos com toda a sua diversidade e especificidade. Aliás, à medida que esta especificidade foi sendo percebida, foi havendo um afastamento progressivo da categorização típica da linguística. Um exemplo da especificidade da semiótica é a questão dos níveis de significação.

Esta problemática tem levado ao recurso cada vez mais frequente à categorização triádica peirciana, ícone-índice-símbolo. A hierarquia de Peirce tem além do mais a vantagem de se harmonizar com a hierarquia de representações em psicologia, utilizadas, nomeadamente por Piaget para descrever o desenvolvimento por etapas da função simbólica.

No plano da relação a correspondência entre as categorias peircianas e os pares princípio de prazer/princípio de realidade e imaginário simbólico põe em evidência uma progressão ontogénica entre o indicial e o icónico e o simbólico, aqueles ligados ao contacto e à relação comunitária e este ligado à linguagem.
Nos quase inseparáveis planos da significação e da cognição a hierarquia índice- ícone - símbolo permite pensar na progressão entre processos primários (pré-lógicos) e secundários (lógico-linguagem). O quadro conceptual de Peirce demonstra que a comunicação varia de acordo com os tipos de signos que usa a nível da relação, significação ou cognição.

Sendo a imagem o domínio da representação icónica que implica, pois as imagens mentais e materiais invadir o domínio da comunicação linguística torna-se difícil manter as características específicas dum campo e doutro sem transformar o linguístico em instrumento do icónico (tal como os estruturalistas já haviam feito no sentido inverso). Importante é, sobretudo, compreender os efeitos de mediação disponibilizados pelo linguístico, sendo através das palavras que as imagens se constituem em classes e também através das palavras se tornam possíveis operações mentais como a dedução. Se considerarmos que através da palavras as imagens se estruturam em classes , uma tal estruturação em que ícone e linguagem se interligam é uma estruturação complexa com vários níveis de abstracção e serve de suporte a operações cognitivas diversas incluindo as operações lógicas, espaço preferencial da linguagem)

Se se reconhecer a complexidade da imagem mental, uma nova questão se levanta: a da relação entre a imagem mental e as imagens materiais, na medida em que, inseridas num quadro de pensamento icónico complexo, perdem de certo modo a sua autonomia e é necessário estudar como se inserem nesse quadro.

Entramos assim na área da semiótica cognitiva ao questionar as diferentes dimensões da imagem e como esta interage com os diversos sitemas semióticos construídos pela cultura e pela técnica.

As imagens originais (ou o mimetismo na origem das imagens)

Para Piaget a imagem assenta na imitação. Os jogos de imitação constituem uma forma primitiva de conhecimento, na medida em que supõem uma acomodação ao objecto. A imitação é reduzida a esboços motores que servirão de base à construção duma imagem mental:
  • O conhecimento tem raízes na imitação (mimesis) como capacidade primitiva de reprodução corporal do mundo percebido, capacidade essa que dá origem à representação.
  • A mimesis é um fenómeno complexo que comporta uma espécie de substituição/reprodução das diferentes partes do corpo.
  • O mimetismo está presente tanto na recepção como na reprodução das imagens. Assim perceber uma imagem implica necessariamente uma retoma postural e motora das formas percebidas. Tanto os modelos mentais como as representações mentais ou materiais supõem processos de projecção-identificação múltiplos.


Ao contrário das imagens (modelos visuo-espaciais) os modelos mentais podem representar também entidades e relações de natureza não espacial que são, na verdade projecções-identificações que ligam o receptor às imagens através de várias modalidades perceptivas. Por exemplo, num modelo abstracto, atribuímos um determinado carácter estático ou dinâmico às entidades (fundo, manchas visuais, etc) segundo as intenções que o observador projecta sobre elas.


As imagens de base

Lakoff propôs uma teoria do conhecimento com base na experiência do mundo construída a partir do corpo e da cultura e que diz que as nossas experiências corporais pré-conceptuais são a base de todas as nossas estruturas, incluindo as mais abstractas, distinguindo duas categorias de estruturas:
  • Categorias de nível básico
  • Imagens esquemáticas quinestésicas

Há assim categorias de base, como por exemplo conceitos como martelo, carro, etc, que pertencem a categorias sobreordinadas (ferramenta, viatura) e contêm subordinadas (martelo de carpinteiro, corsa). As categorias primordiais ou básicas são as primeiras percebidas pela criança, correspondem a formas (Gestalt) perceptivas, prestam-se a finalidades específicas e dão lugar a ricas imagens mentais. As imagens de base são aquelas mais próximas do corpo, da capacidade de se identificar

As imagens esquemáticas são estruturas simples prévias a qualquer outro conceito e dão sentido à experiência quotidiana: atrás/à frente, alto/baixo, etc.

O facto de se distinguirem níveis de base donde partem todos os outros dá suporte à construção do conhecimento como elaboração de imagens com níveis de complexidade variável.

A metáfora, intimamente ligada à imagem e à imaginação, é um aspecto essencial da conceptualização da experiência. Capacidade de conceptualização significa:
  • Capacidade de formar estruturas simbólicas (conceitos de nível básico e imagens esquemáticas) que se relacionam com a nossa estrutura pré-conceptual.
  • Capacidade de projectar estruturas do domínio físico no domínio abstracto

O perspectivismo das imagens

O perspectivismo é a característica que faz com que das imagens tenhamos apenas uma visão perfil-todo ou parte-todo, estrutura que se repercute em todas as imagens construídas a partir do real. Este facto é também paradoxal porquanto significa que em certa medida a parte contém o todo, isto é, face a uma imagem vemos muito mais do que aquilo que se vê (ideia de signo), mas por outro lado uma percepção ou imagem apenas permite uma visão truncada (logo o conhecimento é sempre parcial, porque conceptualiza uma coisa através das partes) e a partir do nosso ponto de vista.

A imensa diversidade de pontos de vista é compreensível se pensarmos nas enormes possibilidades da língua na construção das imagens. As expressões linguísticas têm como função fazer o ajuste focal das coisas conceptualizadas. Em termos de ajuste focal, segundo Langacker, as palavras dividem-se em duas categorias de predicados nominais, designando as coisas, e relacionais respeitantes às interacções. A categoria relacional pode ser relativa ao processo ou a uma relação intemporal. A existência das diversas categorias linguísticas serve para dar conta dos destaques efectuados pela conceptualização de algo. Assim, encontramos em todos os níveis de conhecimento visto como representação icónica juízos quer sobre os modelos mentais abstractos quer sobre as imagens mentais simples, como se o conhecimento se confundisse com um juízo sobre algo. Construir o conhecimento sobre algo significa salientar um aspecto até aí desapercebido ou considerado marginal, e rever as interconexões a partir desse ponto de vista novo.

Visto deste modo é a multiplicidade de pontos de vista que está na fonte do progresso do conhecimento e o ser humano deve ser capaz de múltiplas perspectivas do mesmo objecto. Porém a integração de diversos pontos de vista por muitos que sejam tem sempre um nível de subjectividade, pelo que a imagem, por muito complexa que seja, é sempre elaborada a partir dum ponto de vista particular, logo não é possível conceber uma imagem totalmente despida de subjectivismo.

Enquanto que a noção de ponto de vista é muitas vezes encarada como noção de opinião, a representação icónica supõe sempre um ajuste focal a partir dum ponto de vista entendido como posição espacial, logo implicando um olhar e uma atitude particulares. Sendo assim, as operações cognitivas correspondentes não podem compreender-se sem actividade corporal (contracções musculares, impulsos, e em particular o olhar). Assim, por exemplo, ao predicado relacional “andar” corresponde uma imagem mental motora de marcha. A construção dum modelo mental testemunha uma multiplicidade de destaques de relações dinâmicas ou estáticas mais ou menos salientes, processo esse que envolve necessariamente o corpo e a sua actividade de simbolização.
Portanto qualquer que seja o nível de abstracção do conhecimento ele procede dum enquadramento e ajustamento focal.

Assimilação, comparação, metaforização

Para Piaget a assimilação, isto é, a adaptação intelectual é a base da actividade cognitiva, e consiste em integrar o novo no já conhecido, isto é numa estrutura anterior quer relativa às experiências, quer a estruturas impostas pelas nossas rotinas interpretativas.

Portanto, os conceitos de comparação e assimilação implicam a compreensão duma coisa através de outra. Deste modo para salientar certos aspectos duma entidade são necessárias diversas comparações no interior dessa entidade e entre essa entidade e outras. A metaforização é, assim, um processo de conceptualização característico da vida mental que dá lugar aos níveis mais abstractos do conhecimento de Lakoff (lembremos que as categorias de base e as imagens esquemáticas eram as mais elementares)
A metáfora permite experienciar uma coisa em termos doutra e reflecte-se em numerosas expressões linguísticas como, por exemplo, “estou no céu”. Subjacente a esta expressão está a metáfora de orientação assente numa estrutura esquemática alto-baixo. As metáforas ontológicas permitem conceber acontecimentos, emoções ou ideias como substâncias. Exemplo: “afundado num mar de problemas”. As metáforas estruturais utilizam um conceito altamente estruturado para estruturar outro a partir daí. Exemplo: a assimilação do conceito de discussão ao conceito de guerra e utilização da linguagem comum aos dois conceitos.”as suas ideias são defensáveis. Usou de todas as armas para me atacar mas eu defendi-me com bons argumentos” Cada um dos conceitos é complexo e supõe uma estrutura interna com diversos componentes (desafio, intimidação, etc), representação esta que se projecta na conversação.
É importante observar que a metáfora acentua uns aspectos da forma (gestalt) enquanto atenua ou mascara outros. No caso da discussão acentuam-se os aspectos guerreiros enquanto se mascaram os aspectos cooperativos.
Induzindo uma modificação do ponto de vista, a metáfora cria ressonâncias que remodelam a estrutura da imagem alvo o que, por sua vez também vai ter efeito na imagem fonte remetendo alguns dos seus aspectos para planos secundários. Esta remodelização faz-se através da capacidade mimética da imagem.
A metáfora cria ou revela semelhanças? Embora não possa haver metáfora sem algum grau de semelhança, a metáfora também é criadora, na medida em que traz alguns aspectos para o primeiro plano, induzindo uma recomposição de traços.

Todavia, a comparação não se limita à projecção metafórica, estando também ligada à identificação ou contrário, diferenciação e esquematização.

Esquema e esquematização

A noção de esquema já é referida por Kant como a passagem do sensível ao conceito, enquanto que para Piaget esquema, e em particular esquema sensorio-motor é uma espécie de plano de relação com o objecto que conduz primeiramente ao pré-conceito e depois ao conceito. Sendo assim, para estes autores, o esquema é como que um intermediário entre o concreto e o abstracto, o particular e o geral, conceito que reapareceu recentemente na psicologia cognitiva para designar estruturas de representação mais complexas que as correspondentes à palavra e à frase, constituindo mesmo para Rumelhart e Norman como uma superstrutura onde cabem todos os nossos conhecimentos, estruturas de dados destinadas a representar os conceitos gerais armazenados na memória, modelos do mundo exterior.

Quando pensamos em cão o conceito contém um vastíssimo conjunto de dados e relações. Alguns destes dados, factos ou relações são constantes, enquanto que outros são variáveis e a relação entre o constante e o variável indica uma característica fundamental dos modelos mentais: variar em especificidade. Por exemplo o conceito dar poderá de constante a mudança de possuidor e de variável o que dá e o que recebe. Para Langacker a esquematicidade está assim associada ao progressivo desaparecimento dos pormenores.

A esquematicidade é a manifestação duma aptidão fundamental para a selecção e abstracção, necessariamente ligadas à assimilação e à comparação., noções estas interdependentes. Assim, as comparações entre imagens conceitos implicam a formação de conceitos mais esquemáticos e ainda redes esquemáticas de conceitos interligados e dizem respeito à organização do conhecimento em geral.
A aprendizagem corresponde à complexificação de esquemas, partindo dum esquema de baixo nível e progredindo pela categorização, fundada na percepção de semelhanças, conceito, complexificação horizontal da categoria lexical e expansão vertical em redes de esquemas sucessivos. Langacker exemplifica com a categoria lexical árvore. (Um pinheiro é uma árvore porque se parece com aquilo que eu identifico como árvore e do mesmo modo a palmeira, que não faz parte do meu meio, também tem semelhanças, etc.) As redes lexicais podem tornar-se muito complexas criar redes, nós e relações mais salientes de acordo com dinâmicas, mudanças e pressões da experiência e da comunicação.

A esquematização é um produto da comparação tal como a extensão (assimilação a uma mesma categoria) e a metaforização (sobreposição parcial de categorias que permanecem diferenciadas). A esquematização implica uma actividade inferencial, isto é, busca das implicações decorrentes da interferência entre duas formas (Gestalt)

Se pedir a uma criança que desenhe uma flor ela fá-lo-á transferindo para o domínio gráfico os atributos da categoria cognitiva (caule, pétalas, etc.), mas se o objecto ocupar uma categoria marginal na categoria cognitiva ou não ocupar mesmo qualquer lugar (o que aconteceria se pedisse a uma criança que desenhasse um animal que ela nunca havia visto), as características da transposição não terão nada que ver com a construção mental típica, isto é não houve a construção dum esquema a partir duma categoria subordinada, mas sim provavelmente duma categoria superordinada (dum nível mais geral). Se a criança tiver que desenhar um galo e não conhecer um galo tenderá a desenhá-lo de acordo com a categoria animal (e poderá pôr-lhe as quatro patas que associa a essa categoria), isto é construíam um esquema a partir dessa categoria mais geral.

Aspectos do conhecimento ordinário

Do que atrás foi dito concluiremos que o conhecimento é uma vasta rede de imagens ou modelos ligados entre si por laços associativos fundados na semelhança e na contiguidade, sendo esta rede estruturada hierarquicamente a partir do nível de base enraizado na experiência corporal do mundo.

Para regular as nossas relações com o mundo dispomos de modelos mais ou menos esquemáticos que podem associar-se e especificar-se de acordo com as situações e problemas a resolver. Os esquemas e sub-esquemas que comportam os saberes da vida quotidiana são os mais estruturados, havendo porém zonas de conhecimento para as quais apenas dispomos de modelos pouco esquemáticos e pouco conectados entre si. Construímos esquemas progressivamente mais abrangentes e mais gerais, dependendo a riqueza dum esquema da diversidade de sub-esquemas que o potencialmente o integram.

Mas voltemos às zonas de saber que não se estruturaram através de aprendizagens sistemáticas ou muito afastadas da vida quotidiana, zonas consideravelmente desenvolvidas nos nossos dias graças à proliferação dos média. O alcance inferencial dos esquemas em domínios como a astrofísica, a biologia celular, etc, para a maior parte das pessoas, não assenta em esquemas básicos ou em saberes sistematizados, logo são esquemas pobres de sub-esquemas ou apenas contém aspectos muito parciais dos fenómenos. Há, efectivamente, uma projecção metafórica muito elementar próxima da experiência quotidiana em esquemas que salientam alguns aspectos periféricos, mascarando ou ignorando mesmo aspectos mais relevantes dos esquemas conceptuais desses domínios de saber mais afastados do conhecimento comum, num processo de “coisificação” das entidades que constituem esse esquema mais marginal.

Conclusão: Para uma semiótica cognitiva

A ideia esquemática duma iconicidade de pensamento resume-se brevemente em alguns pontos que se implicam mutuamente:
  • O conhecimento começa com a representação mimética do real percebido, desenvolvendo-se através duma hierarquia de representações icónicas que vão desde as imagens ao alcance do corpo até aos modelos mentais cada vez mais abstractos, mas mesmo assim icónicos
  • Toda a imagem ou modelo torna salientes uns aspectos da representação icónica enquanto oculta ou ignora outros.
  • Na medida em que o conhecimento assenta sobre uma actividade de assimilação ou de comparação, ela procede necessariamente por metaforização e esquematização, sendo o conhecimento uma vasta rede de modelos esquemáticos mais ou menos encaixados e interligados uns com os outros

Que articulação há, pois, entre os signos externos e as imagens e modelos mentais, isto é as representações ou signos internos?

Os signos externos não são apenas meios de comunicação dos signos internos, mas também tecnologias da inteligência que alteram as operações do pensamento, havendo, assim, uma interdependência entre o domínio sócio-semiótico e o psicológico.

O papel fulcral do corpo na formação do pensamento suporta a ideia da iconicidade do pensamento. Além disso, o imaginário mental não precisará da capacidade lógica da linguagem verbal para exprimir certos conceitos, assim como a lógica não formalizará necessariamente as operações representativas. Se a linguagem serve a imagem mental, já que a traduz, também, por outro lado, transforma essa imagem mental.

Caberá, assim, à semiótica cognitiva estudar as transformações introduzidas pela palavra na imagem e vice-versa e as possibilidades cognitivas daí decorrentes.

Há apenas um modo de representar o mundo, o icónico, cuja acopulação com o sistema exterior de significantes desmultiplica as potencialidades de diferenciação, abstracção, etc.

É necessário definir claramente como os signos externos retroagem sobre a imagem mental e a sua diferenciação e organização, assim como o modo como as imagens materiais externas interagem com as internas.

Há, a este propósito, respostas antagónicas afirmando que as imagens externas provêm das imagens mentais ou, contrariamente que as imagens mentais resultam duma mentalização do percebido, considerando mentalização como o produto dum ajustamento focal.

E que dizer das imagens animadas que atestam a nossa capacidade de efectuar transformações mentais sobre o percebido?

As imagens esquemáticas como os diagramas são projecções no espaço exterior dos nossos modelos mentais provenientes da nossa aptidão não só para extrair esquemas das coisas e relações percebidas, mas também para criar esquemas com diversos níveis de abstracção.

A problemática da projecção do espaço interior no espaço exterior coloca grandes questões à semiótica cognitiva, nomeadamente a da elucidação sobre as aptidões cognitivas subjacentes à elaboração das imagens materiais e a da determinação da imagem mental pelas imagens materiais e o que influencia estas, a cultura e a técnica.

As imagens mentais e o discurso são traços reveladores da actividade cognitiva em cuja origem existem diferentes produções icónicas e aptid~es gerais, como a comparação, projecção metafórica, extracção de esquemas, diferentes modalidades de ajuste focal.

As imagens mentais com origem na interiorização do mundo exterior e as operações mentais sobre essas imagens conseguem especificar-se em imagens exteriores que são, por sua vez interiorizadas determinando em certa medida a imagem mental (ideia de circularidade). As imagens mentais de objectos externos característicos da nossa cultura e tradição enquadram a formação dos nossos modelos mentais. A cultura e a técnica produzem esquemas gerais transsubjectivos que são interiorizados pelos indivíduos, alterando a sua imagem individual específica. Assim interrogamo-nos sobre a medida em que a forma reticular da organização da informação com as novas tecnologias poderá reconfigurar a nossa imagem mental a nível de categorias e modelos e operações sobre os modelos.

O outro aspecto da imagem material é a questão das operações cognitivas solicitada pela percepção das imagens materiais e que, sendo mais próxima dos signos e da sua organização, é mais semiótica.

Há ainda outras questões específicas relativas aos discursos concretos que percorrem o tecido social com toda a espécie de representações individuais e colectivas. Estes discursos sociais são dispositivos igualmente cognitivos e de enunciação em cuja origem se encontram representações do mundo, corporizando as marcas de cultura colectiva transportadas por cada indivíduo.

No plano da recepção, por seu lado estes discursos são também objecto de elaboração pelo destinatário com a construção dum modelo mental mais ou menos correspondente ao do emissor e que reflecte a apreensão das intenções do destinatário.

Wednesday, February 28, 2007

A Mensagem Visual - parte II

A retórica da imagem

Mensagem literal – (presença de um signo visual acompanhado por signos de natureza linguística/ diversas mensagens sobrepostas) – constrói um significado denotativo.
(mensagem paradoxalmente sem código - designação aplicada por se tratar de imagens que não implicavam investimento de um saber próprio, para além daquele saber ligado à percepção. (Barthes, 1964).

Outra análise mais detalhada encontra outros tipos de signos

Signo constituído pela integração e composição
– (natureza plástica) – ideia de italianidade.
Signo constituído pela composição compacta de objectos diferentes – (natureza plástica).
Signo correspondente à composição global de todos os objectos – (reivindica um significado estético relacionado com a ideia de natureza morta).
Signo linguístico – (significado indica publicidade).


Estes signos atrás mencionados demonstram que a mensagem da imagem pode ser mais do que literal – O signo visual origina numa primeira fase um significado denotado, este significado torna-se num significante de um significado segundo – Conotação.


significante (1) ligado a um primeiro significado (1’), por seu turno, se torna num significante (1’) ligado a um outro significado (1’’)

Neste esquema, valores culturais e ideológicos podem actuar enquanto códigos de interpretação de mensagens visuais.
A interpretação cultural que destes códigos se cria é variável/ fluida dependendo do leitor (conhecimentos / tradições sócio culturais de cada uma na análise da imagem)
Estes segundos significados que surgem da análise do receptor da imagem constituem a Retórica da Imagem Barthes (op. cit.). As significações conotativas dadas por um intérprete podem sobrepor-se à significação literal abafando todo o valor denotativo da mensagem. As imagens passam a ter um valor argumentativo/ persuasivo (mensagem publicitária).
A mensagem visual é um sistema de signos que tem na base uma composição solidária de vários signos (de ordem icónica; ordem indexical aos quais se acrescentam de seguida signos de ordem
simbólica).


Existem signos linguísticos nas mensagens visuais de uma forma útil e operativa. Sendo mensagem polissémica (diversas interpretações) há necessidade de introduzir signos linguísticos para reduzir a gama de significações possíveis. Sendo assim os signos linguísticos cortam a polissemia da imagem.




Mecanismos de ancoragem - Permitem responder ás questões "o que é?" e "quem é?" – auxiliam na interpretação do significado denotativo do signo/identificam os objectos representados (imagem é objecto de uma legenda - assume uma descrição metalinguística).

Signos linguísticos introduzidos na mensagem visual com objectivos de dirigir a interpretação (signos linguísticos têm uma função de repressão relativamente a significações não desejadas pelo emissor) .



Mecanismos de complementaridade - Quando funcionam como elementos que completam signos visuais (mensagem exige que os dois tipos de signos se intercruzam para que haja interpretação).





Gramática das representações visuais

Gunther Kress e Theo van Leeuwen (1996) incidiram os seus estudos nas significações das mensagens visuais em alguns contextos comunicacionais através da analise de uma série de signos visuais do quotidiano. O modelo desenvolvido por estes autores está focalizado numa teoria de comunicação semiótica, com raízes na semiótica social que se centra nos processos de significação dos intervenientes no circuito comunicacional. (emissor/receptor - sujeitos sociais envolvidos numa determinada cultura que contextualiza e ritualiza condicionando os aspectos comunicacionais).
Para além dos modos tradicionais de discurso (signos linguísticos) a comunicação visual torna-se cada vez mais imponente nas sociedades actuais.
Gunther Kress e Theo van Leeuwen procuram regularidades que permitam entender de que forma diferentes tipos de representação visual e diferentes relações entre si se tornaram prototípicos de modos actuais se foram induzindo determinados tipos de leitura – cerne de uma gramática das representações visuais. Deste ponto de vista, gramática significa o modo de organização que se foi desenvolvendo social e culturalmente nas sociedades ocidentais.


De acordo com o modelo as representações visuais podem entrar na cadeia de significantes de três modos:

1.Representação – associam-se a dois tipos de estruturas:




estruturas narrativas (construção de acontecimentos representando o fazer/acções/mudança/configurações transitórias).


estruturas conceptuais (aspectos conceptuais, desligados de qualquer acção ou evento).





2.Interacção – diversos recursos que sugerem ao leitor a natureza das relações entre os participantes exteriores à imagem.

A análise das interacções pode ser efectuada em três dimensões na representação:

forma semelhante e comunicação face a face - contacto (expressão facial/gesto etc.)

distancia social (definida pela proximidade da câmara relativamente aos intervenientes - relevância na fotografia e no cinema)

atitude (vinculada pela perspectiva) - visão frontal indica envolvimento; visão diagonal indica distanciamento).

Para analisar imagens os autores importaram da linguística o conceito de modalidade - o uso desta nas representações visuais é importante uma vez que é através de diversos mecanismos modalizadores que se torna possível criar imagens que representam coisas ou aspectos como se não existissem.

Os diferentes mecanismos que permitem modalizar imagens são:

utilização da cor – (saturação/diferenciação/modulação da sombra à cor plena).




contextualização – (ausência de background ou o contrário); sugestão de profundidade – (técnicas de perspectiva).





iluminação – (grande luminosidade até quase à ausência desta).








brilho.





3. Composição – relacionada com a organização dos participantes na representação (maior ou menor ênfase de elementos que integram a representação:


localização dos elementos na totalidade da imagem (esquerda - novidade/parte inferior - "mais reais" / parte superior - "ideais")

enquadramento dos elementos (tamanhos relativos; contrastes de cor; presença ou não de linhas divisórias - sugerem ruptura entre elementos).

Tendo em atenção recepção da mensagem visual e o que é representado definem-se aqui dois tipos de participantes assim como as possíveis relações entre eles:

Participantes interagindo (quem cria / quem lê a mensagem) – exteriores ás representações visuais mas que participam na transacção semiótica correspondente à comunicação.

Participantes representados (traduzidos no objecto da comunicação) - traduzem elementos integrantes dos signos visuais podendo ser representações de pessoas, lugares, objectos ou signos remetendo para conceitos abstractos.


Mensagem Visual

A mensagem visual - I parte

Duas possíveis analises de signos:


- significação que induzem
- Elementos necessários para a organização de um discurso (comunicação emissor/receptor)

Abordar-se a mensagem visual como um elemento constituinte de um processo comunicacional, organizada com base em signos visuais (plásticos e icónicos e por vezes signos linguísticos)
Signos são organizados/ produzidos entre si com a finalidade de passar uma mensagem num contexto específico de comunicação.

Seis funções da comunicação linguística:

Referencial, expressivo/emotiva, apelativa, fática, poética e metalinguística

Signos visuais não são usados com objectivos:

Metalinguística – Imagem, enquanto signo visual, não permite descrever-se a si mesma, falar sobre si própria.

Fática – O signo visual não cria a possibilidade de interpelar o receptor no sentido de assegurar o contacto entre este e o emissor.

Signos visuais são usados com objectivos:

O Grito
Edvard Munch
Expressivo / emotiva / poética – Quando ligadas aos signos plásticos que integram o signo visual. (subjectividades expressivas do artista / cativar o espectador – campo artístico)




Apelativa – Instrumento de influenciar o receptor – mensagem publicitária




Referencial (denotativa ou informativa) – Formas de significação dos signos icónicos de natureza figurativa (Permitem a identificação do objecto que referem ou denotam dentro da função) – imagens documentais.



Todas estas distinções têm valor analítico apenas uma vez que as imagens podem criar significações múltiplas (através de signos plásticos ou signos icónicos), podendo dar origem a significados denotativos ou simbólicos ou criar emoção/adesão /repulsa no espectador.
Raramente as imagens são analisadas ou lidas em toda a sua complexidade.
A complexidade dos signos icónicos provém da criação por estes de processos semióticos sucessivos (um signo é despoletador de outro num processo múltiplo que pode ser simultâneo ou sequencial).



Signos visuais e contexto

Urinol
Marcel Duchamp
Semelhante ao funcionamento das mensagens linguísticas,a mensagem visual necessitade ser incluída no contexto onde ocorre.
O Contexto é indutor de expectativas no leitor da mensagem, expectativas essas provenientes de experiências sócio culturais previamente formadas/ conhecimentos variados / familiaridade prévia com processos semióticos idênticos (ex: imagiologia científica que necessita de ser explicada quando o receptor não dispõe do conhecimento para as decifrar – Non sense)





Non Sense – actualmente utilizado pela publicidade no sentido de surpreender o receptor ganhando assim a sua atenção sobre um determinado produto


exemplo:

http://www.pisenagrama.com/stopmotionguinness.htm

Quando o contexto não chega para entender o significado da imagem o leitor da imagem terá que orientar as expectativas sobre aquilo a que pode referir uma dada representação visual.


Três Modalidades das representações visuais:

Função simbólica – imagens usadas como símbolos de ordem religiosa/ social /política






Função epistémica – usos que valorizam as representações visuais que veiculam (imagens documentais) e aspectos cognitivos ligados ao signo visual tanto como representação como suporte de pensamento/ raciocínio (cartas/diagramas/mapas)







Os Relógios Derretidos
Salvador Dali

Função estética – imagem ligada à fruição e à emoção, de natureza individual marcada civilizacionalmente por padrões culturais (noção de belo, de artístico, etc.).










Para uma leitura do signo visual

Assumindo a imagem como signos visuais complexos e não pretendendo classificar esta como sendo icónica em oposição a outra que seria plástica, investigadores Grupo µ distinguem entre signo icónico (icónico versus pictórico figurativo) e signo plástico (figurativo versus plástico) com a intenção de estabelecer características que delimitam dois tipos diferentes de signos que embora autónomos no seu modo de funcionamento, interferem ambos da mesma forma no signo visual. Esta abordagem pretende criar uma teoria que abranja todos os signos visuais.


Três classes de elementos operacionalizaveis num signo plástico:

Textura – depende do suporte e da matéria plástica e do modo como as massas textuais são usadas (grão/mancha)

Formas – dimensão / posição / orientação relativa

Cores – espectro característico / variação/ tonalidade

Estes elementos constroem significantes que dão origem à noção de tridimensionalidade assim como significados codificados por uma cultura em formas simbólicas.
Os três elementos não dão, só por si, uma estrutura ao signo plástico uma vez que este é singular e só ganha estatuto semiótico numa determinada representação visual podendo ser conotado como símbolo ou como ícone. Os significados plásticos dependem dos conteúdos psicológicos dados pelo receptor.
A significação do signo é global visto corresponder à interacção entre elementos plásticos e icónicos (do plástico ao icónico e vice versa ou na minimização de um dos elementos de um dos signos quando o interprete cria as suas expectativas.

Três tipos de articulação entre signo plástico e signo icónico:

Relações de congruência – quando há harmonia no significado entre signo plástico e signo icónico (formas e cores completam os significados icónicos podendo haver relação de redundância)

Relações de oposição – o receptor é apanhado desprevenido, este tipo de relação pode levar ao alargamento da significação ou proliferação de significados

Relações de predominância – quando um prevalece sobre outro e vice-versa apagando o significado do outro


Wednesday, February 21, 2007

Grupo μ

O signo icónico

Conceitos abordados no Capítulo IV:

Diferença entre copia e reconstrução, motivação, “objectos reais”, produção e recepção, isomorfismo, plano da expressão, plano do conteúdo, signo icónico, tipo ou classe, referente, significante, estabilização, conformidade, reconhecimento, transformações, relações significante – referente, relações referente - tipo, relações tipo - significante, diferença entre significado linguístico e visual, marca, entidade, subentidade, supraentidade, subtipo, supratipo, determinantes e determinados, adjunção, supressão, substituição, permutação, transformações geométricas, transformações analíticas, transformações ópticas, transformações cinéticas, filtrado, discretização, nitidez, profundidade de campo


Caracterização do signo icónico

Do ponto de vista da percepção, um signo icónico cria um modelo de relações (entre fenómenos gráficos) homólogo ao modelo de relações perceptivas ao que construímos ao conhecer e recordar um objecto.
O iconismo define muitos fenómenos diferentes (analogia dos instrumentos de medida e dos computadores até aos casos em que a semelhança entre signo e objecto está feita com regras sofisticadas bem como no caso da imagem espectacular). Todos estes fenómenos dependem da semiótica.
Distingue-se na noção de iconicidade duas relações distintas: o parecido (reflexivo e simétrico) e a representação.
Estes pensadores defendem que qualquer coisa pode representar qualquer coisa.
Abandonam a ideia de cópia proposta antes a ideia de reconstrução.

MODELO GERAL DO SIGNO ICÓNICO

O signo icónico pode ser definido como um produto de uma tripla relação entre três elementos

O grupo μ propõe definição tripla do signo (significante; tipo e significado) em substituição da definição binária (significante -significado)

Significante icónico – conjunto mobilizado de estímulos visuais que correspondem a um tipo estável identificado graças ao momentos desse significante. Este pode ser associado com um referente sendo reconhecido como hipótese de tipo mediante relações de transformação com o referente.

Tipo – é a representação mental constituída por um processo de integração (pode ser genericamente descrito). A sua função consiste em permitir equivalências entre o referente e o significante.
Tem características conceptuais (não tem características físicas)

Referente – designatum actualizado
O objecto não é visto como uma suma não organizada de estímulos sendo membro de uma classe onde o referente não é necessariamente real
A existência desta classe de objectos é validada por a do tipo
O referente é particular e possui características físicas.

Entre estes 3 elementos (significante; tipo e significado) são criadas relações que podem ser descritas genericamente e sincronizadamente
Estes elementos têm características espaciais sendo comensuráveis
Existe uma homologação entre modelos de relações perspectivas.
As relações que se baseiam nesta comensurabilidade ou homologação podem ser denominadas transformações. (geométricas, analíticas, algébricas, ópticas)

Operações de transformação

Compreendem dois sentidos: (significante e referente e referente e significante) – estas operações são aplicadas para postular baseando-se em características do significante
A Reconstrução por transformação feita com a ajuda dos dados proporcionados pelo tipo e pelo arquétipo
As regras da transformação são aplicadas para elaborar um significante baseado na percepção de um referente (concreto e presente / postulado) – as transformações descritas permitem dar testemunho da ilusão referencial (a que une significante e referente), bem como a equivalência de dois significantes.

Referente – tipo

Neste género de transformação existe uma relação de estabilização e integração (os elementos pertinentes extraídos do contacto com o referente são acrescentados aos paradigmas que constituem o tipo).
Por outro lado (tipo - referente) a operação constituída por uma prova de conformidade (mecanismos idênticos à terceira relação)

Tipo – significante

Os estímulos visuais podem ser objecto prova de conformidade que a partir das manifestações sensoriais formulam ou não hipóteses de tipo. Por outro lado (significante – tipo) – existe um reconhecimento do tipo – confrontar um objecto (singular) com um modelo (geral). Este tipo de estrutura baixa a forma de paradigmas
Muitos objectos podem ser corresponder a um tipo único.
Nesta transformação existem critérios de reconhecimento que são de natureza qualitativa e quantitativa.
O problema da relação entre tipo e significado é de enorme importância na semiótica geral.

Marcas

Articulando o significante em determinantes conduz na prática a um fim.
As entidades correspondentes a tipos acabam por articular-se em subentidades que correspondem a tipos subordinados.A este tipo de manifestações dá-se o nome de marcas que se definem por a ausência de correspondência com um tipo.

Estrutura do tipo

Existe hierarquia entre determinantes que correspondem a uma hierarquia de subtipos.


Tipos subtipos e supratipos

Tipo não possui caracteres visuais podendo ser descrito por uma série de características algumas das quais são visuais e outras não. Essas características estão de acordo com o nível de análise. Existem agrupamentos de tipos que mantêm entre eles relações vagas ou simplesmente estatísticas.

Transformações geométricas

Emparelhamento simples


Translação – figura encontra-se, idêntica, noutro lugar do espaço
Rotação – conservação de ângulos e longitudes – figura é idêntica mas a sua orientação modifica-se no plano.
Simetria – conservação dos ângulos e das longitudes. Figura idêntica mas invertida.
Homotecia – não conservam as longitudes (há uma redução da figura)

Emparelhamentos completos

Deslocação – compostos por translação e rotação
Semelhanças – produto da deslocação e de homotecia
Congruências – produto de translações rotações e reflexões

Transformações analíticas

Diferenciação e filtrado e algumas das suas modalidades – a estas transformações chamam analíticas porque dependem de outro ramo da matemática que é a análise.

Diferenciação

No caso das imagens aborda-se por ex. a magnitude física como a luminosidade que varia de um ponto ao outro de um campo de visão.
Esta transformação pode ser examinada pelo seu interesse económico e instrumental uma vez que permite representar um espectáculo completo mediante intervenções completamente localizadas pondo em marcha um modelo de leitura ou de decifração, segundo o qual o máximo de informação se encontra concentrado nas transições.
A transformação obtida é uma leitura do transformado de uma forma mais precisa (uma simulação)



O filtrado e a discretização

A obtenção de informação num ponto é confundida num estímulo médio que alcança o nosso olho, o qual analisa e produz uma resposta (um sinal nervoso)

Vector com 3 componentes:
L – luminosidade
S – saturação
D – dominante cromática

Cada sinal é um ponto no espaço em 3 dimensões.
Transformação filtrada – Filtração de um componente do vector que opera uma projecção dos pontos sobre um plano ou dois componentes sobre uma recta.

discretização - permitir dois ou vários valores discretos excluindo toda a variação contínua do parâmetro considerado (um tipo menos radical de filtração) - filtração incompleta

Transformações ópticas

Estas transformações afectam as características físicas da imagem no sentido óptico deste termo.

A transformação

Fixação do componente (luminosidade e brilho)
Os contrastes de quem cria a imagem não são necessariamente os mesmos do sujeito (não são necessariamente equivalentes). O Contraste derivado das técnicas e utensílios do Homem é superior ao encontrado na natureza
A luminosidade é objecto de uma transformação que é preciso implicar na definição de iconismo – transformação y.

Nitidez e profundidade de campo

Na visão normal existe um ângulo de vista sólido em que podemos distinguir várias zonas concêntricas.
A Profundidade de campo pode ser fortemente diminuída por um objecto com foco largo e pouco diafragma e por outro lado aumentada por outros dispositivos.

Transformações cinéticas

Implicam a deslocação do observador com relação à imagem. Esta deslocação afecta a relação entre significante e outros elementos do signo. Neste grupo encontram-se principalmente a Integração e a anamorfosis que nos conduzem à multi-estailidade.
O funcionamento das tramas e dos plumeados baseia-se em certas propriedades do nosso sistema sensorial. Os conceitos de ordem próxima e longínqua são aqui referidos.

Transformação iconismo e retórica

3 Questões de importância desigual a propósito da transformação

1 – Determinadas propriedades das transformações que a classificação destaca.
2 - Hipótese de uma escala de iconocidade que foi formulada em mais de uma ocasião estando ligada ás transformações.
3 - Trata do carácter possivelmente retórico.

Algumas possibilidades das transformações

O icononismo estabelece uma distância entre referente e significante, distancia que se descreve por uma série de transformações

Homogeneidade das transformações – uma certa transformação é homogénea ou heterogénea dependendo como afecta ou não a totalidade do campo que se deve transformar.

Equivalências – transformações simétricas, reflexivas e transitivas
Homeomorfia – transformação característica dum ramo particular da geometria (não métrica)

Estas teorias procuram uma descrição rigorosa das observações intuitivas a propósito das imagens (problema do iconizado)

a)As transformações icónicas são reversíveis / simétricas· (é necessário sair da teoria das transformações para distinguir a imagem do seu modelo)

b)As transformações icónicas são compostas entre elas / transitivas (Podem ou não exercer-se operações retóricas sobre a (a) ou b)) bem como nas duas e neste caso é possível q b) anule a a))

Transformação e escala de iconicidade

Na imagem, a informação não está repartida uniformemente. A transformação é uma operação que trata de um conjunto de traços espaciais atribuídos ao referente. A ideia de escala mostra que é possível situar todas as transformações em função de um tamanho quantificável de iconicidade.
É necessário conceber estas transformações também num plano qualitativo e ter em conta os tipos icónicos que correspondem estes objectos
No reportório dos tipos, tais objectos podem ter estatutos geométricos mais ou menos forçados
A Dimensão pragmática das transformações é o factor que explica a intuição de uma escala de iconicidade.
Uma teoria dos tipos para funcionar de modo satisfatório deve planear unidades estruturais hierarquizadas em múltiplos níveis.
Para a teoria das transformações não basta explicar o fenómeno da iconicidade, tem que descrever com precisão um dos seus parâmetros.

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Como é que eles equacionam a importância da existência de elementos plásticos nas composições visuais?

É a introdução de elementos plásticos nas composições visuais que distingue o signo icónico do signo plástico. Enquanto que aquele remete para o seu referente – apesar de nunca nos podermos alhear do papel desempenhado pela cultura na capacidade de ler esses signos – o signo plástico mobiliza uma multiplicidade de valores a partir de experiências sensoriais a nível de forma, dimensão, textura, posição e orientação para a atribuição de significações. Esses valores não têm necessariamente que ver com referentes sendo mesmo possível alguma arbitrariedade na tendência ora para o simbolismo ora para o iconismo O signo plástico pode ser também abordado a nível conceptual, isto é, da coerência, organização dos elementos dentro do enunciado O signo plástico pode ser também abordado a nível conceptual, isto é, da coerência, organização dos elementos dentro do enunciado O signo plástico pode ser também abordado a nível conceptual, isto é, da coerência, organização dos elementos dentro do enunciado

Como se interpenetram elementos plásticos e elementos conceptuais?

A despeito da potencial arbitrariedade de relação no signo plástico entre indicante e indicado e da multiplicidade de composições e significados possíveis, logo grande instabilidade tenta-se encontrar e definir neste tratado que elementos semânticos estão presentes de forma estável na generalidade de ícones plásticos, chegando assim a categorias como forma, cor, espaço e textura tanto a nível de significante como de significado. É a utilização destas categorias e suas subcategorias que permite a análise conceptual do signo plástico. Não é possível atribuir um conteúdo ou um significado unívoco às expressões cromáticas ou ao grão dum enunciado ou mesmo à articulação das várias formas entre si e com o fundo. No entanto é o reconhecimento da presença, ausência ou variabilidade da unidade semiótica que permite, por exemplo, alguma categorização.
O signo plástico pode ser também abordado a nível conceptual, isto é, da coerência, organização dos elementos dentro do enunciado

O que é um signo visual?

Costuma falar-se no signo visual por oposição a signo verbal argumentando que enquanto este tem carácter simbólico o signo visual remete para um objecto que representa por qualquer tipo de semelhança. Porém o signo visual também pode agregar significados arbitrários, convencionais e culturais.
Por outro lado o signo visual que engloba a imagem no seu conjunto que possui um referente de aparência real não poderá chamar-se por essa razão signo icónico?
E se tem um referente do mundo real como distingui-lo, por exemplo duma obra de arte de características mais naturalistas cuja função não é efectivamente a remissão para o objecto real, mas sim a de agregar uma multiplicidade de significados expressivos e mesmo simbólicos através das linhas formas, cores, etc?
Esta complexidade de abordagens permite-nos pois usar a expressão signo visual como uma categoria global empírica de signo, mas dada a falta de estabilidade de características, levou à necessidade de distinguir dentro do signo visual duas categorias fundamentais: signo icónico e signo plástico.

Que desdobramento se pode assumir num signo visual e como aplicar este modelo a um caso concreto?

O signo visual seja ele icónico ou plástico pode ser abordado, como qualquer signo, do ponto de vista do significante ou do significado. Assim, imaginemos, por exemplo, a repetição duma mesma forma num enunciado: o modo como estão distribuídas, orientação, as diversas dimensões usadas, a própria interacção com texturas diversificadas podem potenciar significações de tensão ou equilíbrio, conformidade com referentes ou simbolismos culturalmente mais ou menos aceites ou reconhecidos, etc.

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Wednesday, January 17, 2007

Visões Gerais sobre 'Imagem'

Magritte - Olho


Este texto alertou-me sobretudo para a polissemia não só do termo imagem e de outros que habitualmente lhe estão associados, mas também da própria imagem, bem como para importância da imagem na construção da realidade.

Com efeito, enquanto que para a visão mimetista, a imagem deve ser a cópia tão fiel quanto possível da realidade, para a linha constructivista radical “o ser humano produz versões dos mundos”, versão esta que me parece podermos aproximar do modelo falsificaionista de Popper para quem o processo de construção da realidade resultará da constante confrontação e rejeição entre esquemas já possuídos e novos esquemas. Assim a realidade seria sempre provisória sendo mesmo possíveis como defende Goodman variados esquemas /versões de realidade.


Essa múltipla visão do mundo não estará afinal também presente na própria polissemia da 'imagem'?

A multiplicidade de significados justifica da imagem justificaria assim a sua indissolúvel ligação ao contexto sociocultural. Na verdade a imagem ou o conceito que ontem foi verdadeiro e informou uma certa visão do mundo pode ser hoje uma curiosidade histórica. A necessidade de recorrer a uma determinada tipologia de imagens decorre por exemplo da função dessa imagem: dar a conhecer, transmitir, preservar, mas também ajudar a conceptualizar novas visões da realidade. É o caso dos diagramas, que não correspondendo a uma realidade física, dizem respeito a uma realidade conceptual e contribuem, não só para a melhor compreensão da realidade, mas também para a criação de novo conhecimento sobre essa realidade e, logo, sua reconstrução.